NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

As obras citadas só com nome de autor são as indicadas na bibliografia (no fim destas notas). Os números sem maior indicação referem-se aos capítulos e parágrafos da "Vida".

E = versão latina de Evágrio.

(1) O título que traz E é provavelmente o original: Athanasius episcopus ad peregrinos fratres. A palavra latina "frater" (irmão) foi usada pela latinidade cristã com o sentido de "irmão em Cristo", "cristão". Na literatura monástica "irmão" chegou a ser sinônimo de "monge". MEYER 106; LORIE 34 ss.; LAMPE 30.

(2) Trata-se de monges ocidentais, que, parece, pediram a Santo Atanásio esse servió. O patriarca esteve relegado em Tréveris em 336/337; em março de 340 foi de novo deportado; desta vez esteve em Roma. Visitou Milão e voltou a Tréveris.

(3) O sentido original de "monge" é do que vive em solidão. Quando o monaquismo se foi estruturando para maior comunidade de vida, a palavra foi ampliando seu sentido. Denota qualquer monge, viva solitário ou em mosteiro. A insistência de Santo Atanásio em sublinhar a solidão de Santo Antão indica que usa a palavra em seu sentido original. Por outro lado, porém, já devia estar consciente da ampliação do significado, pelas características dos monges ocidentais que conheceu, e também por sua convivência com os monges de São Pacômio, entre os quais passou seus últimos desterros; pois bem, eles não eram solitários, mas monges de vida comunitária. LAMPE 878 SSL; LORIE 24 ss.; COLOMBAS 40 SS.

(4) A "ascesis", que significa "exercício, prática, treino", designa em linguagem cristão o estudo das Escrituras, a prática das virtudes, a vida devota, a disciplina espiritual, a vida austera. Como termo técnico designa a vida monástica e suas práticas. Santo Atanásio a utiliza neste sentido, mas com todos os matizes anteriores. É a tarefa própria dos monges, que exige toda classe de virtudes e modificações, requer um exercício contínuo e tem como finalidade a perfeição, não por amor a si mesmo mas por amor a Deus. Seu fruto é a sabedoria espiritual, com a pureza do coração, o discernimento dos espíritos, a consciência da presença de Deus e o gozo de sua comunicação. O sentido fundamental é, no entanto, a austera e difícil disciplina de si mesmo. LAMPE 244; LORIE 55 ss.

(5) Literalmente, "Mosteiros". Originalmente a palavra designava a habitação de um solitário. Paulatinamente, e passando pela organização de colônias de solitários (44, 2-4), o termo se aplica à residência dos monges de vida comunitária. Para evitar a conotação já demasiado precisa de "mosteiro", preferimos nesta versão "cela" ou "cela monástica". LAMPE 878; MEYER 111; LORIE 43 ss.; COLOMBAS 75-76.

(6) Uma variante do texto gego - "já que fui sem companheiro e verti água em suas mãos" - mostra Santo Atanásio como discípulo e companheiro de cela de Sasnto Antão. A maior parte dos críticos se inclina para a variante que traduzimos no texto. MEYER 106; L.V. Hertling, "Studio storici antoniani", Stud. Ans. 38 (1956), 23; COLOMBAS 51.

(7) Talvez não deva ser isto tomado muito ao pé da letra. É mais provável que Santo Atanásio desde o começo da "Vida" esteja interessado em assinalar a contraposição entre sabedoria divina e rusticidade humana. Cv 20,4; 33,5; 72,1; 73,3. Em todo caso, Santo Atanásio não possuía a cultura grega, uma vez que para falar com gregos necessita de intérprete. Cf também nota (73).

(8) É difícil determinar com segurança a certeza histórica dos detalhes desta descrição da infância de Santo Antão. Este teria sido desde menino um pequeno asceta. Não se pode negar a tendência edificante. A hagiografia posterior abusou amplamente deste recurso até fazer incríveis as infâncias dos santos. Mas ainda assim, a existência concreta de meninos santos e certas indicações da psicologia infantil deveriam acautelar-nos contra uma repulsa absoluta do conteúdo deste capítulo.

(9) Cf Santo AGOSTINHO, Confissões, 8,12.29.

(10) Uma "arura" - m/m 2.700m2. A extensão correspondia mais ou menos a 80 Has.

(11) E (PL 73, 128 A) acrescenta: mais necessitada por seu sexo e idade.

(12) Os "Apoftegmas dos Padres" (Antão 20; PG 65, 81 C; PL 73, 772 C; Guy 25; Dion 87) relatam: "Um irmão havia renunciado ao mundo e distribuído seus bens aos pobres, reservando-se porém um pouco. Veio a Antão que, informado do assunto, disse-lhe: Se queres ser monge, vai à cidade, compra carne, cobre com ela teu corpo nu, e volta. O irmão assim o fez. Vieram então cães e aves e lhe dilaceraram o corpo. De volta a Antão, este lhe perguntou se havia seguido seu conselho. Mostrou-lhe então seu corpo dilacerado. Disse-lhe Antão: Os que renunciam ao mundo e querem guardar dinheiro, são assim dilacerados quando os demônios os atacam".

(13) Esta seria a primeira vez que aparece a palavra "parthenoôn" no sentido cristão de "casa ou grupo de virgens". Todavia, nessa época precoce (c 271), as mulheres religiosas viviam geralmente com suas famílias, embora se reunissem para exercícios comuns. Mais tarde, a "Vida" nos diz que a irmã de Antão foi superiora de um grupo de virgens (54,6). Mas uma variante do texto grego, apoiada por diversas versões, traz: consagrou sua irmã "à virgindade'. MEYER, 107; COLOMBAS 58. Seguimos a E, deixando a imprecisão.

(14) A doutrina da oração incessante goza de tradição ininterrupta na literatura monástica. O tema como tal, que provém do ensino do N.T., foi desenvolvido especialmente pela escola alexandrina, como Clemente e Orígenes. Conseguiu-se estabelecer que muitas idéias destes dois doutores, ainda que não todas, acham-se na "Vida". A oração incessante não é, entretanto, um ponto isolado mas acha-se estreitamente unido à prática da virtude e à pureza do coração. Segundo a "Vida", a vida ascética tende à recuperação, para a alma, do estado em que foi criada por Deus antes do pecado. A isto se chega pela prática constante e decidida da renúncia, da abnegação, da mortificação. Mas em todo esse processo para a pureza do coração, a oração constitui o elemento central que é simultaneamente meio e fim da vida ascética. A oração é, por sua vez, sustentada pela leitura (ou memorização) e meditação da Escritura. A meta final é aquela perfeita paz do espírito que nada, externa nem internamente, pode perturar, por que todo o ser do monge está penetrado das coisas de Deus. A oração incessante é a contemplação amorosa do que Deus fez e lutou no monge e pelo monge. Cf M.J. MARX, "Incessant Pryer in the Vita Antonii", Stud. Ans. 38 (1956) 208-135.

(15) Reminiscência de Lc 8,15. De mais de um monge se dizia que sabia de cor a Escritura, como por ex. apa Or, apa Amón, ou os monges pacomianos, segundo Paládio em sua "História Lausíaca" MEYER 108.

(16) Conforme o ensinamento do NT. aparece aqui a suma e essência de toda vida santa: o amor a Deus e ao próximo, com a nota tipicamente atanasiana de um marcado cristocentrismo. Tal como no NT, conhecem-se diversas listas de virtudes, e a mesma "Vida" apresenta outra em 17,7.

(17) Sempre foi traço característico dos monges antigos o desejo de aprender de outros, imitando suas virtudes mais salientes. No entanto, é interessante notar que na "Vida" não se trata de um afã exibicionista por estabelecer uma espécie de competição ao respeito. Sempre destaca o perfeito equilíbrio espiritual de Santo Antão e o profundo respeito pelos carismas alheios.

(18) "Amigos de Deus" é o título que a Escritura atribui ao patriarca Abraão e aos profetas ou geral; c. Tiago 2,23; Sb 7,27; 2 Cr 20,7; Is 41,8; Judite 8,22; de Moisés: Ex 33,11; Nm 12,8. Apoiada na linguagem bíblica, a tradição cristã desde os primeiros séculos chamou "amigos de Deus" os justos que gozavam da graça ou do favor particular de Deus (cf Jo 15,15). E.T. BETTENCOURT, "L'idéal religieux de S. Antoine", Stud. Ans. 38 (1956) 48; B. STEIDLE, "Homo Dei Antonius", ib. 189 ss.

(19) O tempo e a experiência fizeram o diabo um perito em manhas. Cf S. Cipriano, ad Fortun. 2: "Adversarius vetus est... usu ipso vetustatis edididicit." Cf também S. Jerônimo, Ep. 22,7.29; Ep. 125,12. Ver também c. 40 da "Vida". MEYER 108-109.

(20) E (PL 73,129D) acrescenta: Ele lhe oferecia o caminho da adolescência, resvaladiço, fácil para cair; mas este, considerando os eternos tormentos do juízo futuro, conserva incólume a pureza da alma em meio das tentações.

(21) "Negro": o uso desta palavra não era infrequente entre romanos e gregos num sentido moral figurado, para designar malícia ou perversidade. O mesmo no uso cristão primitivo. Dar a cor negra ao autor do mal e de toda iniquidade era muito comum. Dado que os etíopes e egípcios eram de tez muito escura, o diabo foi muitas vezes designado com tais nomes nacionais. LAMPE 840a. meyer 109.

(22) Os antigos consideram as ruínas de mausoléus, as tumbas e os desertos como ambiente predileto dos demônios. Os três têm em comum ser lugares abandonados, não habitados pelos homens, e onde o demônio não é combatido pelo bem nem pelos exorcismos. Só os malfeitores se refugiam neles (cf At 21,38). Cf Mc 5,2-5; Lc 8,29; 11-24. A morada escolhida por Antão é provavelmente um cemitério abandonado. E. T. BETTENCOURT, o.c. 50; COLOMBAS 59.

(23) Na mitologia antiga, os servidores dos deuses eram frequentemente chamados "cães", cf também, 42,1, MEYER 110.

(24) E (PL 73,132B) acrescenta" O leopardo com suas diversas cores indicava a variedade de astúcias de seu autor.

(25) Trata-se da chamada "Montanha Exterior", onde Santo Antão passou vinte anos de absoluta reclusão. É em Pispir, na margem oriental do Nilo, a mais ou menos 90 km ao sul de Mênfis. O deserto de Nítria fica a noroeste, no outro lado do Nilo, diretamente ao sul de Alexandria. Ao sul de Heracleópolis, em ambos os lados do Nilo, está o "grande deserto" da Tebaida, o lar do monacato egípcio de são Pacômio. MEYER 110; COLOMBAS 93 ss.

(26) E (PL 73, 134B) acrescenta: e se reunira uma infinita quantidade de enfermos.

(27) Ainda que a "Vida" seja muito sóbria quanto aos detalhes da vida pessoal de Santo Antão, há diversas anotações que permitem ver a íntima relação entre a vida ascética e vida mística. Nessa passagem, Santo Antão é apresentado como tendo atingido o cume da vida cristã: penetrou os mistérios da fé cristã e pode ser considerado portador do Espírito de Deus. A cena tem reminiscências da descida de Moisés, Ex 34,29ss. Santo Antão, "deificado" assim por essa vida íntima com Deus, é agora apto para transmitir vida divina; a paternidade espiritual é o fruto de seu retiro absoluto. LAMPE 642, 890. LORIE 133 ss.: BETTENCOURT o.c. 51-52.

(28) E (PL 73,135 A) acrescenta: Tendo assim começado, calou-se um momento, e admirando a excessiva generosidade de Deus, continuou.

(29) E (PL 73.135 D) traz uma lista algo diversa dessas dez virtudes (cf também, 4,2-3): sabedoria, castidade, justiça, fortaleza, vigilância, amor aos pobres, fé em Cristo, mansidão, hospitalidade.

(30) S. AGOSTINHO, em suas Enarrat. in Pss. 38,12, diz que há um modo de levar conosco as riquezas da terra: mandando-as diante de nós nas mãos dos pobres.

(31) E (PL 73, 137 A) acrescenta: Basta-nos o adorno natural. Não sujes, homem, o que a generosidade divina te concedeu. Querer alterar a obra de Deus é manchá-la.

(32) O conceito do ar como ambiente dos demônios é estranho ao AT e à apocalíptica judaica. É crença comum no mundo grego e helenista, mas presente também no judaísmo rabínico. A literatura cristã antiga, incluído o NT (cf Ef), compartilha a mesma crença, mas o ar não é o ambiente natural dos demônios, mas sim cairam aí de sua primeira morada, o céu. O ar é também o lugar de suas desordens e de suas guerras. Cf. S. AGOSTINHO, De Civ. Dei 8,15.22. J. DANIELOU, Les démons de l'air dans la Vie d'Antoine, Std. Ans. 38 (1956) 136-147; MEYER 112.

(33) Os mitos religiosos gregos eram, segundo Justino, Apol. 1,54, invenções dos espíritos maus. os vários ritos pagãos, semelhantes aos sacramentos cristãos, são um arremedo deles e inspirados pelos demônios. Outros autores estabelecem que os antigos poetas gregos foram inspirados por espíritos impostores. Do mesmo modo os antigos oráculos também eram obra do demônio. Cf 78,5; 79,1; MEYER 112-113.

(34) Dentro da dificuldade do mundo antigo para conceber uma natureza espiritual, aparece aqui esta imagem materialista e grosseira dos demônios. Ver também nota (63).

(35) Já Orígenes em "Contra Celsum" 4,92 ss., participava desta opinião, sua superioridade a qualquer substância corpórea lhes dá em certa medida a faculdade de prognosticar eventos futuros. Ao recorrer a disfarces animais, enganam ao curiosos e crédulos.

(36) Isto é, o Nilo que, para um egípcio, era o que fazia o Egito. Também no AT o Nilo é geralmente chamado "o Rio", ou "o grande Rio". MEYER 114.

(37) "Theotókos", Dei Genitrix, Deipara. É o título mais célebre da Virgem Maria, com o qual se designa sua maternidade divina. Foi pedra de toque nas controvérsias cristológicas do século V sobre a pessoa de Cristo. O título foi negado pelo patriarca Nestório de Constantinopla (+ c.451), por não ser escriturístico, não utilizado pelo Concílio de Nicéia (325), não poder a Virgem Maria, por ser criatura, gerar a divindade, por convir o título somente ao Pai. Os nestorianos preferiam "Christótókos". Os oponentes a Nestório, encabeçados por São Cirilo de Alexandria (+ 444), não só conseguiram no Concílio de Éfeso (431) a definição da união de naturezas em sua única pessoa e a condenação de Nestório, mas também fizeram aceitar o título mariano. A primeira menção segura disto é a de Santo Alexandre de Alexandria (+ 328), o predecessor de Santo Atanásio, em sua carta a Alexandre de Constantinopla. O historiador Sócrates (Hist. ecl. 7,32.17) sustenta que já Orígenes (+235) usou este título, mas não foi encontrado nas obras que até nós chegaram do grande mestre alexandrino. Entre as obras de Santo Hipólito de Roma (+235) aparece o título várias vezes, mas em obras cuja autentiticidade se discute ou em passagens interpoladas. LAMPE 639-641.

(38) Tanto nos Padres como na liturgia e na literatura monástica encontra-se o uso da exsuflação como sinal de defesa e proteção contra os demônios. Igualmente a utilização do sinal da Cruz, que é o método favorito de Santo Antão. E traz aqui "cuspi", por alguma variante de seu texto grego, o que também se fala na literatura como sinal contra o demônio.

(39) São Gregório Magno em suas Moralia 14,13.15, faz o demônio aparecer como excelente psicólogo, que se dedica a estudar cuidadosamente o temperamento e as inclinações potenciais de sua vítima, e de acordo com isto dispõe as astúcias correspondentes. Nesse planejamento, o demônio também escolhe a ocasião propícia. MEYER 117.

(40) Literalment: "estar na espectativa, aguardar". Aqui, como em 24,6-7, aparece a antiga crença, baseada em Ap 20 (cf também Mt 25,41), de que o castigo dos demônios com o fogo do inferno ainda não começou, ou, então, foi interrompido.

(41) Como o NT já o testemunha, era notório na antiguidade o desprezo pelos cobradores de impostos. Cf. S. GREGÓRIO NAZ., Orat. 19,14: "A guerra é o pai dos impostos". E indubitável a idealização da vida monástica no Egito neste panegírico; cf também S. JOÃO CRISÓSTOMO, Hom. in Mt 8,4.5. MEYER 118.

(42) Em 305 abdicaram os imperadores Diocleciano e Maximiano. Sucederam-nos Constâncio e Galério como Augustos; Severo e Maximino Daia foram feitos Césares. Este último tomou a seu cargo a administração da Síria, Palestina e Egito e sobressaiu por seu fanatismo na continuação da perseguição de Diocleciano. A violenta repressão cessou temporalmente com o edito de tolerância de Nicomedia (30 de abril de 311), aplicado de muito má vontade por Maximino, que, antes de seis meses recomeçou a perseguição. Só em fins de 312 maximino volta à tolerância e finalmente sob a pressão de seus rivais ocidentais Constantino e Licínio, concede a paz religiosa. J. DANIELOU, Nova História da Igreja, t.1.

(43) A excessiva exaltação do martírio, relacionada em parte com a crença na iminência da Parusia, em fins do século II, mas sobretudo impulsionada por toda uma literatura em torno do martírio e dos mártires, havia criado uma mística do martírio. Às vezes apresentavam-se cristãos em grupo ante os prefeitos. Isto levou a Igreja a intervir, proibindo a apresentação voluntária ante as autoridades. J. DANIELOU, Nova História da Igreja.

(44) E (PL 73,147C) acrescenta: vestido de branco. MEYER 119 supõe que se trata da mudança de sua aparência monástica pela de um civil egípcio. L.V. HERTLING, o.c. 29, supõe em todo caso que esse disfarce de Santo Antão não foi muito eficaz, já que o prefeito o reconhece, ainda que não o prendesse. Santo Antão queria oferecer-se ao martírio, mas sem violar a legislação eclesiástica.

(45) A palavra "mártir", que significa originalmente "testemunha", e que foi aplicada a Deus, às Escrituras, às diversas figuras bíblicas, usou-se posteriormente para os ou as que selavam com seu sangue sua fidelidade a Cristo. Posteriormente chamavam-se também "mártires" os que, embora sem morrer, haviam sofrido por Cristo. Deu-se também tal nome a todo verdadeiro cristão, e falou-se do martírio de diversas virtudes. Isto levou a aplicar esse título também aos ascetas. A vida monástica é descrita na literatura com os mesmos termos que se usavam para descrever a luta do mártir da fé. LAMPE 830-833; E.E. MALONE, "The Monk and the Martyr" Stud.Ans. 38 (1956) 201-228.

(46) O mesmo se refere acerca de Plotino. PALADIO em sua "História Lausíaca" relata exemplos semelhantes nas vidas de vários de seus personagens. Não se pode negar o motivo penitencial, mas talvez o fundamento mais profundo desta forma de ascese (no deserto!) era o profundo horror aos costumes licenciosos que prevaleciam nos banhos públicos pagãos. MEYER 119-120.

(47) Isto lembra a antiga prática do "incubare": os que desejavam receber uma visão (cf 1 Sm 3,3) ou ser curados de suas enfermidades, deitavam-se no recinto de um templo. MEYER 120.

(48) Trata-se de um distrito pantanoso no delta do Nilo, habitado por pastores. MEYER 120; H. ROSWEIDE, Onomaticon, PL 74, 417C. Parece que Santo Antão havia pensando não só em ir para o sul, como também na possibilidade de ir habitar para o norte.

(49) Trata-se do monte Colzim, em pleno deserto na planície de Qalala do sul, aproximadamente 180 km a sueste de Alexandria, entre o Nilo e o Mar Vermelho. A montanha com o antigo mosteiro de Santo Antão é chamada inda Der Mar Antonios.

(50) E (PL 73,149A) acrescenta: "vivendo no deserto do trabalho de suas mãos" (cf At 20,34).

(51) E (PL 73,150B) acrescenta: Maravilha sobre maravilha sucediam-se. Não havia passado muito tempo, e o homem de tão grandes vitórias foi vencido pelos rogos dos irmãos.

(52) E (PL 73, 150B) acrescenta: ainda que fosse uma laguna com água de chuva.

(53) E (PL 73, 250C) acrescenta: todos foram sobre ele saudando-o com beijos e abraços.

(54) Ambos os nomes são romanos. Havia duas cidades com esse nome na antiga Itália, mas como a palavra significa também "corte, palácio", sugere-se que este homem, quanto aos demais desconhecidos, era um oficial, ou empregado romano a serviço do prefeito romano de Alexandria. MEYER 122. E traduz: ex Palaestinis. DRAGUET (Arnauld d'Andilly): da casa do Imperador.

(55) E (PL 73, 152C) acrescenta: Sob a perseguição de Maximino arrancaram-lhe os olhos por Cristo, mas gloriava-se imensamente de tal desonra de seu corpo. Pafnúcio era nome sumamente comum no Egito do século IV. Vários bispos e monges são conhecidos sob esse nome, o que dificulta sua identificação. Neste caso, o epíteto de "confessor" e o acréscimo feito por Evágrio, assinalado antes, parecem indicar que se trata do bispo Pafnúcio da Alta Tebaiba, martirizado sob Maximino. participou no Concílio de Nicéia, com grandes honras. O Martirológio Romano menciona-os no dia 4 de setembro. H. ROSWEIDE, PL 73, 181 B).

(56) PALADIO, em sua "História Lausíaca" 8, conta a história de Ammón (ou Amoun). Casado sob a influência de um tio viveu com sua mulher 18 anos em virgindade. Então, por sugestão dela mesma, Ammón abandonou-a para fazer-se monge no deserto de Nítria. Ali morou vinte anos, até sua norte. Consta que em fins do século IV, haveria no deserto de Nítria uns cinco mil discípulos dele. MEYER 123.

(57) Trata-se talvez do alto oficial que ajudou Santo Atanásio no Sínodo de Tiro do ano 335, a por a descoberto algumas das maquinações de eusebianos e melecianos. MEYER 124.

(58) Nome feminino que ocorre não raramente em antigas inscrições gregas. Alguns manuscritos latinos acrescentam: Filha de Públio. Não é claro que Laodicéia se refere ao texto, já que havia várias cidades com esse nome. É provável que seja Laodicéia da Síria. H. ROSWEIDE, PL 73,181 D; MEYER 124.

(59) "Christóforos" = portador de Cristo, isto é, cheio ou inspirado por Cristo. Já Santo Inácio de Antioquia ( + c.110), Ef 9,2, usou esse título para os cristãos. Cf também em Nt G 1,3,27. Posteriormente, o título aplicou-se a pessoas especialmente inspiradas: apóstolos, mártires. Logo foi dado também aos ascetas. LAMPE 1533.

(60) O dia era dividido em 12 horas de igual duração, mas dependia da estação do ano. A nona hora correspondia, segundo a época do ano, a nosso tempo entre as 13 e as 15 horas. Esta era a hora normal entre os anacoretas coptas para tomar seu alimento. Só durante o tempo pascal comiam à hora sexta, isto é, ao meio dia. No tempo da Quaresma o jejum se prolongava, para os que comiam, até depois de Vésperas. Aconselhava-se os monges a comer todos os dias o mesmo alimento e à mesma hora. COLOMBAS 81.

(61) Dentro do paralelo entre o martírio e a vida monástica (ver nota 45), destaca o seguinte: a morte do mártir, isto é, o ato pelo qual consumava a oferenda de sua vida a Deus, foi concebida como segundo batismo (em alguns casos, como o dos catecúmenos mártires, como o único batismo). Do mesmo modo, o ato do oferecimento irrevogável de um monge a Deus, isto é, sua profissão monástica, foi considerado também como segundo batismo. O ritual da profissão adota também alguns elementos do rito batismal. Isto chega a ponto de alguns Padres sustentarem para a profissão monástica os mesmos efeitos que os do batismo, como se vê na "Vida". Cf S. JERÔNIMO, Ep 25,2; Ep 8; S. BERNARDO, "Lib. de Praec. et Disp. 17,54 (BAC 130,817). Cf também S. TOMÁS, 2-2, q.189, a. 3 ad 3. Cf também o apoftegma anônimo que identifica o poder de Deus no batismo e na tomada de hábito: PL 73, 994B Guy 402; Dion 268. E.E. MALONE. o.c. 211; H. ROSWEYDE PL 73, 182A-D.

(62) Nestes dois cc. 65-66 aparecem as duas mais famosas visões de Santo Antão (cf também 60,1). Em ambas trata-se de uma contemplação da alma. Na primeira, que se produz num êxtase durante sua oração, contempla-se o estado da alma em oração. Na segunda, o estado da alma depois da morte. No fundo ambas supõem a mesma concepção sobre o ambiente e função dosdemônios e identificam o estado de oração mística a posse definitiva da visão beatífica. Aquele é a antecipação terrena desta, por certo provisória, mas sujeita às mesmas dificuldades em sua consecução. Também a alma, em sua ascensão às alturas da contemplac'ão divina, deve passar pela esfera de domínio dos demônios. Só se é pura pode conseguir a união com Deus na oração perfeita. E. T. BETTENCOURT oc. 57.

(63) O esforço da antiguidade por conceber a alma como algo espiritual, ou ao menos como algo imaterial ou quase imaterial, tem uma boa ilustração em suas representações na arte, especialmente em jazigos, monumentos ou ícones. Os intentos de representá-la como um pequeno ser, idêntico em todo caso, ao homem defunto, ao qual, frequentemente se pinta com asas, documentam este esforço e a concepção de seu vôo do corpo no momento da morte. Era igualmente concepção geral, tanto pagã como cristã, que, ao chegar a morte, é perseguida por graves perigos, representados por dragões e outras bestas demoníacas. Cristo muitas vezes aparece como "pxycopompós", isto é, guia e protetor das almas. MEYER 125-126.

(64) Sobre o ar como ambiente dos demônios, ver nota (32). Que os demônios do ar prcuram impedir a ascensão das almas ao céu, é conceito que aparece no s. II. É de notar neste sentido a "Passio Perpetuae" (IV,3-4), onde o tema de monstro aparece em sua primeira forma. O rasgo da função "aduaneira" dos demônios encontra-se já em Orígenes, Hm in Lc 23, PG 13, 1861 D; o demônio é comparado a um arrecadador de impostos que examina dívidas pendentes. Essa idéia vai ser retomada e explicitada pelos Padres posteriores, e é também a concepção da "Vida". O ponto em que esta insiste particularmente é que o ar é o domínio demoníaco em que semelhante exame se realiza. Como algumas almas são retidas, o ar vem a ser também o lugar de seu castigo ou purificação. Pois bem, uma parte das almas conseguem escapar desse controle. Ainda que o tema de Cristo como aquele que abriu caminho do céu não apareça na "Vida", faz parte do mesmo contexto conceptual. J. DANIELOU, Les démons de l'air... 140-147.

(65) O movimento monástico é fundamentalmente um movimento leigo. Na época de Santo Atanásio eram pouquíssimos os monges que estavam em algum grau de hierarquia eclesiástica. No entanto, em muitas das colônias de anacoretas o sacerdote da igreja central parece haver gozado de certa autoridade. A existência de monges clérigos explica-se por uma dupla razão: de um lado, havia clérigos que se tornavam monges; de outro, a necessidade de contar com sacerdotes para as celebrações litúrgicas obrigou os monges a providenciar a ordenação de alguns dentre eles para o serviço pastoral. De qualquer modo ainda era isto excepcional no monaquismo primitivo; de fato, São Pacômio preferia ir à igreja paroquial ou convidar um sacerdote secular a celebrar no mosteiro, em lugar de deixar seus monges ordenarem-se. Não se deve ver nisto um desprezo pelo ministério sacerdotal, mas o temor de perder o valor próprio de sua vida ascética pelas responsabilidades pastorais de uma vida sacerdotal consequente. Santo Atanásio mesmo preocupou-se em dissipar alguns escrúpulos em monges aos quais desejava confiar o episcopado; indiretamente reprova o querer desprezar o estado clerical como inferior em perfeição ao monástico; cf Ep. ad Drac. 9. COLOMBAS 52; 58; 111. Um Sínodo de Saragoça em 380, contra os priscilianistas, prescreve que um clérigo que se faça monge por orgulho, supondo ser esta uma observância melhor da Lei, deve ser excomungado. MEYER 126. A insistência de Santo Atanásio ao apresentar esse rasgo edificante de Santo Antão é alusão indubitável à existência real de um certo menosprezo pelos clérigos nos ambientes monásticos que conheceu ou frequentou. Isto vai ser um ponto de atrito constante ao longo da história da Igreja, com as disputas medievais entre seculares e regulares, até as modernas discussões sobre o sacerdócio dos monges e sobre o valor da vida retirada. É interessante notar que nas controvérsias que nos séculos XI-XII se opuseram beneditinos e cônegos regulares, Santo Antão foi invocado por ambos os lados. J. LECLERCQ, S. Antoine dans la tradition monastique médévale, Stud. Ans. 38 (1956) 239.

(66) Ainda que a "Vida" não utilize a palavra "apátheia", o estado aqui descrito de perfeito controle de si mesmo, de estabilidade, de libertação de toda paixão, corresponde a ela. A alma purificada chegou, pois, ao que sempre constituiu o ideal de todo asceta: junto à estabilidade moral mantêm-se a pureza e a vida da alma conforme a sua natureza. O homem que conseguiu este alto grau de perfeição, está livre de distrações deste mundo e dos ataques do demônio, e pode então dedicar-se por completo à contemplação das coisas divinas. Nada o perturba mais, nem é arrojado de um para outro lado por seus desejos ou inquietudes. Daí, tudo o que pertuba sua alma ou a despoje do equilíbrio alcançado, é mau; é bom tudo o que favoreça a estabilidade alcançada. CASSIANO, Coll. 9.2.1 denominará este estado: imóvel tranquilidade da alma. Esta expressão é a versão latina da "apátheia", conceito essencial da filosofia estóica, e que passou à linguagem espiritual cristã através dos alexandrinos Clemente e Evágrio Pôntico, se bem que eliminando em parte a negação do humano que ela comporta. Para o cristão, Cristo aparece como o verdadeiro "apathés". Santo Antão aparece, pois, imperturbável em sua alma, levado entretanto por um imenso amor a Deus e a seus irmãos, cuja vida e sofrimento não lhe são indiferentes. LORIE 108-126.

(67) Assim chamados segundo Melécio, bispo de Licópolis no Egito (c. 325). Não se devem confundir com o bispo homônimo de Antioquia e seu cisma, meio século mais tarde. No princípio da perseguição de Décio, a partir de 306 enfrentam-se Melécio e Pedro de Alexandria, o futuro mártir, então encarcerado. Melécio propugna uma atitude severa com os "lapsi" ou cristãos apóstatas da perseguição. Deportado, em seu regresso organizam no Egito uma hierarquia cismática. Posteriormente o Concílio de Nicéia tomou medidas contra ele. Esses melecianos uniram-se aos arianos, destacando em sua luta contra Santo Atanásio. J. DANIELOU, Nova Hist. da Igrej. t.1.

(68) Uma velha heresia gnóstica, assim chamada por seu fundador Mani (aproximadamente entre 216 e 275). Está vinculado ao sincretismo religioso que caracterizou o período do parto. Mani, primeiro batista mandou, entra posteriormente em contato com diversas formas religiosas; cristianismo, budismo, religiões helenistas, zoroastrismo, e de todas elas toma elementos para sua nova religião. Ela vai ter extensão universal, da China até a África do Norte (que teve entre seus membros também a Santo Agostinho na primeiro época de sua vida), e se vai prolongar até a Idade Média, J. DANIELOU, Nova Hist. da Igr..t.1.

(69) É a grande heresia do séc. IV. Toma seu nome de Ario, líbio, nascido na segunda metade do séc. III, e era presbítero de Alexandria. Talvez tenha pertencido ao cisma meleciano (ver nota 67). Até 318 opõe-se violentamente a seu bispo, Alexandre de Alexandria num ponto da teologia trinitária: defende o subordinacianismo ontológico do Verbo. A controvérsia ariana, que comoveu toda a cristandade e que alcançou por vezes contornos violentíssimos, ocupou toda a vida de Santo Atanásio, desde quando diácono de Alexandria. J. DANIELOU, Nova Hist. d Igr., t.1.

(70) Aqui a palavra "irmãos" parece antes significar "cristãos". Assim a fórmula "os bispos e todos os irmãos" abarca toda a comunidade cristã. LORIE, 36. Cf nota (1).

(71) E (PL 73, 157C) acrescenta: Não se pode exprimir quanto serviu a pregação deste grande homem para fortalecer a fé do povo.

(72) "Varão de Deus", "Homem de Deus". Título dado já pela Escritura a certos homens escolhidos por Deus, que se distinguiram por sua palavra de seus altos feitos (especialmente Moisés e os profetas; cf At 7,22). Santo Atanásio apresenta Santo Antão segundo o esquema típico já existente do "Homem de Deus" bíblico além de algumas conotações do "Homem divino" helenista. Este esquema já é reconhecível no ideal de perfeição de Clemente e Orígenes. De todo modo, Santo Antão é apresentado, como o "Homem de Deus" exemplar. Dos diversos matizes, destacam o asceta e lutador contra os demônios, amigo de Deus; outros ficam menos sublinhados como o taumaturgo ou o profeta. Finalmente, toda a vida e ação deste "Homem de Deus" é guiada e mantida pela fé em Jesus Cristo, o Deus feito homem. B. STEIDLE, o.c. 148-200.

(73) Literalmente: "não tendo aprendido as letras". Será esta uma afirmação realmente histórica? Alguns autores (L.v. HERTLING, MEYER) pensam que isto só signfica que não recebeu a formação retórica e humanística que teria sido usual numa família abastada como a de Antão. COLOMBAS pensa que este traço (cf também 1,1; 73,1) é reflexo de um propósito de Santo Atanásio: provar que não são as letras mas a virtude o que aproxima de Deus, e que a profunda sabedoria de Santo Antão não era devida a sua formação humana mas à ilustração divina. COLOMBAS, 63.

(74) CASSIANO, Inst. 5,33ss. traz algo semelhante de apa Teodoro: "Uma vez, procurando esclarecer uma questão muito obscura, persistiu infatigável na oração sete dias e sete noites consecutivas, sem cessar em seu empenho, até que mereceu conhecer, por uma revelação divina, a solução desejada". O monge que suspira por conhecer a fundo as divinas Escrituras não deve preocupar-se demasiado em folhear comentários, mas dirigir sobretudo o cuidado de seu espírito e o ardor de seu coração em purificar-se de seus vícios e pecados". (Trad. de L. M. SANSEGUNDO, Ed. Rialp, Madri, 1957, 216-217)

(75) Aqui se notam dois elementos bem conhecidos da psicologia antiga: a preexistência e a metempsicose da alma. No âmbito grego esta crença é própria sobretudo do orfismo, de Pitágoras, Platão, os gnósticos e o neoplatonismo. MEYER, 130.

(76) É a "Psykhé", "alma do mundo", "alma do todo", "alma cósmica", "terceiro da Tríade de Princípios Divinos de Plotino, da qual emanam as almas individuais.

(77) É o "Nous", segundo da Tríade plotiniana.

(78) Em verdade, na doutrina plotiniana, o princípio emanantista permite a identificação da Alma e as almas só até certo limite.

(79) É o primeiro princípio da Tríade de Plotino, chamado também "Uno", "Absoluto".

(80) São as divindades tutelares do Egito, cujo culto se estendera também entre gregos e romanos. Alude-se à demorada busca que Isis deve empreender do corpo de seu esposo Osiris, assassinado e posteriormente esquartejado por seu irmão Tifón. MEYER, 132.

(81) Kronos (o Saturno dos romanos). O mais jovem dos titãs, filho de Gea e de Urano, a quem despojou do governo do universo. Casado com sua irmã Rea, com ela reinou sobre o mundo. Segundo um oráculo, seria destronado por um de seus filhos; para evitá-lo, devorava-os logo ao nascer. Por uma astúcia de sua mãe Rea, pôde salvar-se Zeus que, chegando à idade adulta, declarou guerra aos titãs e a seu pai, vencendo-os a todos.

(82) E (PL 73, 159C) acrescenta: Envergonhem-se do parricidio e do incesto de Júpiter; envergonhem-se de seus coitos com mulheres e rapazes. Ele, como cantam seus poetas, no cume e no furor de sua espantosa luxúria soltava prazenteiros gemidos. Arrojou-se no seio de Dánae, como amante e como preço. Com asas harmoniosas buscou os abraços de Leda. Encarniçando-se com seu próprio sexo, em má hora manchou a honra do filho do rei.

(83) A utilização da alegoria aparecia aos cristãos como o último e desesperado esforço por defender o panteão pagão contra burlões e incrédulos. Daí a frequente crítica dos primitivos escritores cristãos contra a alegoria como racionalização de antigos mitos. MEYER, 132.

(84) "Demiurgós", isto é, artesão. Na linguagem filosófico-pagã costuma-se usar a palavra para o Criador do universo. No N.T. acha-se em Hb 11,10. A literatura cristã usou o termo também para o demônio, como autor do mal. Mas seu uso era preferentemente aplicado a Deus Criador. LAMPE, 342.

(85) E (PL 73, 160C) acrescenta: muito duro parece isto para todo trabalho, já que depois que alguém tudo fez convenientemente, dá-se o mérito do trabalho mais ao feito do que ao que o fez.

(86) "Deisidaimonia"; para os pagãos significava normalmente "respeito devido aos deuses", "religião"; para os cristãos significava "superstição, falsa religião". Cf também At 17,22. LAMPE, 335; MEYER, 133.

(87) São Serapião (cf também 91,11) foi superior de uma colônia de anacoretas antes de chegar a ser bispo de Thmuis no Baixo Egito. Segundo os testemunhos dos historiadores cristãos, foi homem de grande santidade e saber. S. JERÔNIMO, em seu De vir. ill., 99, atribui-lhe o sobrenome de "Scholasticus", e diz ue escreveu um tratado contra os maniques, um sobre os títulos dos samos e várias cartas. Em PG 40 conservam-se uma carta a Eudóxio e outra aos monges, além dos fragmentos de seu trabalho contra os maniques. A obra mais conhecida que se lhe atribui é o "Eucologio" ou Sacramentário: é uma coleção de trinta orações litúrgicas de grande importância para a história da liturgia cristã antiga. Sendo amigo de Santo Atanásio, viu-se envolvido na coantrovérsia ariana, foi também expulso de sua sede episcopal. Morreu em 362. H. ROSWEYDE, PL 73, 186D) MEYER, 134. LAMPE, XXXIX.

(88) Ao dizer a "Vida": "o atual assalto", parece indicar que estes sucessos ocorriam quando Santo Atanásio escrevia o livro. Ademais, na "Apologia de sua fuga", descreve, talvez com algo de hipérbole, as crueldade e excessos dos arianos.

(89) E (PL 73, 163B) acrescenta: Então, conseguindo operário pagãos como escolta e levando palmas (sinal idolátrico em Alexandria), obrigaram os cristãos a irem à igreja, para que fossem tomados como arianos. Que horror! O ânimo não se atreve a contar o que se passou. Virgens e damas foram violadas. Verteu-se o sangue das ovelhas de Cristo, e com ele borrifaram os veneráveis altares. O batistério foi profanado à vontade pelos pagãos.

(90) Esta comparação dos arianos com as mulas é característica da linguagem da época, e reflete o conceito que Santo Atanásio tinha dos hereges.

(91) "Doux", do latim "dux". Era o título do comandante militar de uma ou várias províncias. Esse ofício foi criado pelo imperador Diocleciano, ao separar os poderes civis e militares, debilitando assim a autoridade dos prefeitos que até então exerciam ambos os poderes. LAMPE, 385; MEYER, 135.

(92) Apoftegmas dos Padres, Antão, 10: Guy, 21. Dion, 31; PL 73, 858A.

(93) Metáfora tomada da unção dos atletas nos jogos desportivos de gregos e romanos. MEYER, 135.

(94) Desde os primeiros dias da Igreja teve-se o costume de honrar os corpos dos mártires e dos homens santos. É provável que Santo Atanásio e Santo Antão impugnem não o fato de honrá-los, mas de que se guardem os corpos nas casas em vez de sepultá-los como havia sido sempre o costume cristão. Em todo o caso, que a mesma honra fosse dada aos mártires e aos homens santos demonstra mais uma vez que a vida ascética havia tomado todos os paralelos do martírio. E.E. MALONE e.c. 216,s.

(95) Na medida em que o cristianismo, com sua visão espiritualizada da vida para além da morte, foi penetrando os costumes egípcios, foram diminuindo o embalsamamento e a mumificação, práticas associadas à crença na necessária participação do corpo na outra vida.

(96) A tradição identificou estes monges como sendo Amatas e Macário (PALADIO em sua "História Lausíaca"), ou Isaac e Pelusiano (Vida de Santo Hilarião. H. ROSWEYDE, Pl 73, 192B).

(97) E (PL 73, 167C) acrescenta: "Pela alegria de seu rosto se podia conhecer a presença dos santos anjos que haviam descido para conduzir sua alma". A aparição dos anjos na morte de um santo homem é traço típico nas "Vidas" posteriores. É igualmente frequente o resplendor ou a alegria no rosto do agonizante. E. STEIDLE, o.c. 173.

(98) A tumba foi descoberta em 561, o seu corpo trasladado a Alexandria. Quando os sarracenos dominaram o Egito em 635, os restos foram levados a Constantinopla. Dali foram trasladados à França em fins do século X, e desde 1491 se guardam na igreja de São Julião de Arles (Lexikon f. Theol. u. Kirche, 3a.ed. 1957, 667. COLOMBAS, 62, não parece compartilhar esta opinião. Sobre o dado do texto, cf Deut 34,6.

(99) Também estes detalhes correspondem aos da vida de Moisés; cf Deut 43,7. Cf também B. STEIDLE, o.c. 159ss.

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Meu agradecimento sincero ao Mosteiro da Virgem - (Publicado aqui nesse site com autorização da Abadessa Madre Eugênia Teixeira, OSB do Mosteiro da Virgem, Petrópolis, Rio de Janeiro.) © Todos os direitos reservados.

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